Aventura pelo Rio Amazonas, de Manaus a Belém

Finalmente, a porta da esperança abria-se diante dos meus sentidos. Caminhava pelas úmidas ruas de Manaus, degustando sucos e sorvetes de cupuaçu, bacuri e açaí e comprava alguns mantimentos para a viagem dos meus sonhos. Navegar o Rio Amazonas de Manaus até Belém era uma aventura que desejava há tempos. O rio Amazonas se movimenta em um fluxo contínuo, começa descendo das escarpas da cordilheira dos Andes percorrendo 6868 quilômetros de extensão até desaguar no Oceano Atlântico.

O porto de Manaus possui uma plataforma flutuante, para acompanhar o regime de cheias da região, inúmeras embarcações recebem e desovam milhares de migrantes e viajantes de todos os cantos do Rio Amazonas e seus 1100 afluentes. O vai e vem mais parece de uma torre de Babel.

Precisamente saímos do porto às 17h de uma quarta-feira, com 125 passageiros (a lotação do barco é de 300 pessoas). Seguíamos pelo rio onde uma brisa deliciosa penetrava pelos poros e anunciava ao espírito a imensidão das águas doces desta fascinante travessia.

Antes do encontro dos rios Negro e Solimões fomos abordados por uma embarcação da Marinha, isto é, um destacamento da Amazônia Fluvial. Fizeram uma rápida inspeção e seguimos em frente. Estava instalado no camarote (beliche) número 14, bem ao lado do cantinho do comandante na parte superior da gaiola, além de uma rede no primeiro piso ao lado da sala de máquinas.

Passeando pelo barco na madrugada observei que a grande maioria dormia profundamente amontoados em suas redes. O barco seguia o Amazonas na direção de Parintins onde seria nossa primeira parada nesta saga fluvial. Os ventos constantes mesclado com o barulho do casco rompendo a massa líquida me colocaram no mais puro estado de meditação.

O cenário da viagem é sempre o mesmo e quase nada se altera. O exercício monótono de olhar a selva e o rio só se modifica apenas com os milhares de troncos que o comandante tem que desviar pelo rio. A convivência e a camaradagem do povo brasileiro é um assunto particular. Longe do estresse dos grandes centros urbanos mais ao sul do Brasil os cidadãos do norte brasileiro dão um banho de civilidade.

Pela noite do segundo dia atracamos na cativante cidade de Óbidos. É nesta localidade que o rio Amazonas fica mais estreito em seu percurso e chega a sua maior profundidade (100 metros).

Na madrugada de sexta-feira, chegamos a Santarém. Conheço a cidade e aproveitei para dar uma volta e tomar um açaí quentinho. Na volta ao barco para amenizar o forno no ventre amazônico o comandante liberou o banho na parte de cima. Tomamos uma chuveirada celestial com a água marrom do Amazonas. Poucas criaturas refrescavam-se com a cachoeira improvisada. A maioria das pessoas continuava esticada em suas redes, escutando o ronco do motor. Botos e garças acompanhavam nossa navegação.

O barco seguia viagem parando em Gurupa e passando pelo estreito de Breves. Nossa chegada em Belém foi esplendorosa. Ao final me despedi da tripulação e dos novos amigos. Tendo a oportunidade, faça sem esmorecer esta aventura pelo Rio Amazonas.

Arthur Veríssimo.

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