Repórter desvenda sucesso dos Coffee Shops do Cairo, no Egito

Napoleão Bonaparte em seus impulsos de grandeza, embrenhou-se pelo Egito em uma megaexpedição francesa em 1798 para conquistar a Terra dos Faraós. Na comitiva, levou um grupo de 167 intelectuais, artistas e cientistas das mais variadas áreas de conhecimento para desvendar os mistérios que cercam a região. Em seus textos, Bonaparte observou: “Aquele que não passa um tempo da sua vida em um café no Cairo, ou preparando essa bebida mágica, não vivenciou a essência do Oriente”. Nosso estimado desbravador estava encantado com o aroma e o efeito do líquido escuro e precioso.

Na fabulosa epopeia dos franceses no Egito, membros da expedição escreveram na obra ‘La Descripcion d’Egypt’ que foram detectados mais de 1.200 cafés na cidade do Cairo.

Minha saga pela fascinante “Joia do Nilo” iniciou numa tarde de quinta-feira com uma visita às pirâmides na planície de Gizé.

Observar, perambular ao redor das pirâmides de Quéops, Miquerinos e Quéfren é uma experiência alucinante. Juntamente com a Esfinge, o conjunto é a única maravilha do mundo antigo ainda existente. Fiquei até o anoitecer extasiado! No dia seguinte, iria fazer um rolê para conhecer os coffee shops.

Toda sexta-feira é dia santo no mundo muçulmano. Grande parte do comércio fecha suas portas, menos os cafés e o tradicional Mercado Khan El Khalili.

Pela manhã, do outro lado da ponte, já avistava o fabuloso Museu Egípcio com seus mais de 100 mil objetos da história dos Faraós e Ptolomeus, mas a jornada de desvendar o mais inacreditável acervo do planeta, onde tesouros encontram-se por todos os lados, seria realizada em outro dia.

Os primeiros cafés abriram suas portas e uma multidão de silenciosos egípcios já fumegava com suas Shishas (cachimbos de água) o tabaco macerado com melaço misturado a condimentos e perfumados com aroma de maçã, rosa, tâmaras e outras iguarias.

O café chegou no Egito no século 16, vindo pelas mãos de um xeique do Iêmen, Sufi Abu Bakr Bin Abdullah, mais conhecido como Al Aidarous. A bebida popularizou-se com a descoberta de que aliviava dores de cabeça e dava muita energia.

Tradicionalmente, os cafés costumavam ter como frequentadores contadores de histórias. O Nobel de literatura (1988), o escritor Naguib Mahfouz, era um frequentador assíduo. Para marinheiros de primeira viagem, as “ahwas” (casas de café) são frequentadas quase que exclusivamente por homens.

Quando cheguei ao bazar, fui conhecer o restaurante mas badalado da área, o Abou El Sid, que possui decoração digna das ‘Mil e Uma Noites’. Almofadões espalhados fazem companhia a mosaicos, antiguidades e obras de arte. Turbinado e bem alimentado, decidi degustar e bebericar as infusões das “ahwas” espalhadas pela praça central do El Khalili.

No cardápio dos coffee shops e nas mesas, os chás competem com os cafés. As infusões de karadê (hibiscus), yansun (anis) erfa (canela) e menta também são incrivelmente deliciosas.

Se o leitor tiver a oportunidade de conhecer uma aharwi, não se esqueça de deixar uma gorjeta para o garçom, dar uma “bakshish” é praticamente um mantra no Egito.

Arthur Veríssimo.

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